NÃO PAGAR A FOLHA DE DEZEMBRO FOI DECISÃO FATÍDICA PARA CAIADO
Todo o desgaste enfrentado pelo governador Ronaldo Caiado, que chegou ao seu ponto mais elevado com a vaia na Procissão do Fogaréu, na Cidade de Goiás, tem origem na infeliz e fatídica decisão de não pagar os salários de dezembro do funcionalismo. Caiado alegou motivações técnico-legais, a partir da falta de empenho da folha pelo governo passado, para deixar a folha em aberto, muito embora especialistas e até técnicos do Tribunal de Contas do Estado tenham deixado claro que o problema poderia ser contornado sem implicar em qualquer responsabilização do governador. Todos os manuais de política começam com uma regra que é a mãe de todas as outras: crises têm que ser encerradas o mais rapidamente possível, para evitar consequências ruinosas e fora do controle. Mas o novo governador, um político habilidoso e experimentado, parece ter esquecido esse mandamento quando jogou mais gasolina fogueira da polêmica sobre o mês de dezembro com o parcelamento em 6 meses, garantindo um lugar na agenda negativa para o assunto pelo menos até meados do 2º semestre.
AUMENTO DA PASSAGEM DE ÔNIBUS NÃO TEVE CONTRAPARTIDAS
A Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo, onde predominam representantes do governo do Estado e das prefeituras da Grande Goiânia, aprovou o aumento da passagem para R$ 4,30 sem a menor preocupação em dar uma satisfação para a população que é obrigada a andar de ônibus e sem exigir contrapartidas das empresas beneficiadas. A exigência de reciprocidade é regra e tradição na maioria das capitais brasileiras. Exemplos recentes foram Natal e Belo Horizonte, cujas tarifas só subiram depois uma série de obrigações assumidas pelos detentores das concessões, que incluíram até o compromisso de gerar mais empregos e trocar, no caso da capital mineira, 30% da frota por ônibus novos, a curto prazo. Em Natal, as empresas vão cuidar dos pontos e suas respectivas coberturas, livrando a prefeitura desse custo, a título de compensação e beneficiando o povo. Em Goiânia, nada.
BASE APOIO NA ASSEMBLEIA ESTÁ FORMATADA, MAS AINDA É FLUÍDA
Anunciada como formatada, a base de apoio do governador Ronaldo Caiado na Assembleia Legislativa não está tão definida como se pensava. A ideia de recorrer a cotas de R$ 30 mil em cargos e indicações para diretorias e superintendências para conquistar a adesão de deputados, acabou provocado mais retrocessos que avanços. Um dos problemas é que os secretários que vieram de fora, maioria na equipe de Caiado, são topetudos o bastante para recusar as nomeações políticas que chegam para as suas pastas sem comunicação prévia do Palácio das Esmeraldas e – pior ainda – com nomes sem qualificação técnica, muitos dos quais apenas familiares dos parlamentares. A administração desse “balcão de negócios”, como o definiu o deputado Major Araújo, aliado de primeira hora do governador, também é muito complexa e vem esquentando a cabeça do líder do governo na Assembleia Bruno Peixoto e do secretário de Governo Ernesto Roller. Por enquanto, se matérias importantes caírem na Assembleia, a aprovação ainda é considerada incerta.
QUANTO DINHEIRO A ENEL ENVIOU A ROMA, EM VEZ DE INVESTIR EM GOIÁS?
Até hoje a CPI que investiga a privatização da Celg e as vantagens oferecidas à Enel não abordou o que mais importa no caso – qual seja a revelação dos valores que a Enel remeteu aos seus acionistas em Roma, na Itália, onde fica a sede da companhia, a título de lucros obtidos em Goiás. São recursos que, pelo menos em parte, deveriam ter sido aplicados na manutenção e ampliação da rede de energia elétrica do Estado – notoriamente carente de investimentos. Que a Enel expatriou dividendos, não há dúvidas, mesmo porque são de sua propriedade outros valiosos ativos de eletricidade no país, como a antiga Eletropaulo, em São Paulo, e isso implica em um faturamento gigantesco. O que interessa é saber se, em vez de gastar um pouco para cumprir os compromissos da empresa em Goiás, os donos italianos preferiram embolsar a grana. Aí, é grave. Mas a CPI não se interessou.
SOCORRO FINANCEIRO É HIPÓTESE CADA VEZ MAIS REMOTA
Está cada vez mais distante a hipótese de socorro financeiro que o governo federal poderia enviar a Goiás. O ministro da Economia Paulo Guedes deu declarações garantindo que, antes da aprovação da reforma da previdência, que só deve ocorrer no início do segundo semestre, nada acontecerá. E, depois, depende. A ajuda aos governadores é malvista pela equipe econômica de Brasília por, supostamente, representar um alívio que vai incentivar o descontrole fiscal em que a maioria dos Estados está mergulhada há décadas.
REFORMA ADMINISTRATIVA AINDA SEM DEFINIÇÃO DE DATA
A segunda parte da reforma administrativa, destinada a mostrar a verdadeira cara do novo governo e também definir a sua disposição para empreender os cortes radicais que a pesada estrutura do Estado demanda para funcionar melhor e com menos gastos, caminha para ser adiada mais uma vez. Prevista para fevereiro, passou para março e depois para este mês de abril, mas, além das dificuldades da equipe para definir as possíveis mudanças na máquina, tem pesado também a incerteza sobre as possibilidades de aprovação pela Assembleia Legislativa – onde a base de apoio ao Palácio das Esmeraldas não está ainda consolidada e também não conta com uma margem de segurança. Há poucos dias, em uma reunião com deputados, Caiado apresentou alguns pontos da reforma, mas rapidamente e sem maiores detalhes, prometendo para depois um esclarecimento mais detalhado. A título de comparação, o presidente Jair Bolsonaro implantou no primeiro mês de mandato as alterações que queria na estrutura administrativa do governo federal. Sem protelações.
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