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BLOG DO JLB | José Luiz Bittencourt

POLÍTICA

Coluna Momento Político - 20 De Abril De 2023

20/04/2023 às 10h09


POR BLOG DO JLB | José Luiz Bittencourt

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A utopia de Vilmarzim: dinheiro do banco da Dilma para salvar a gestão de Aparecida

Desde 2020, quando Gustavo Mendanha ainda estava no poder, a prefeitura de Aparecida sonha com um empréstimo internacional milionário de US$ 120 milhões de dólares para tentar resolver, ainda que parcialmente, o acúmulo de demandas quanto a obras de asfalto, drenagem e outras deficiências da precária infraestrutura urbana da segunda maior cidade do Estado.

A receita do município é superior a R$ 2 bilhões de reais anuais. Deveria bastar, por exemplo, para pavimentar todas as ruas ainda na terra e na lama (2 a 30% % do total, até agora), promessa não cumprida de todos os prefeitos anteriores, enquanto o dinheiro escapa pelos ralos da politicagem. É um déficit gravíssimo, diante do fato de que o asfalto é um dos benefícios civilizatórios mais cruciais para a população, hoje em dia.

Pois bem: de onde viriam esses milagrosos US$ 120 milhões. Pasmem, leitoras e leitoras: do NBD ou Novo Banco de Desenvolvimento, instituição criada pelo grupo de países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Sim, aquela que acaba de dar posse à ex-presidente Dilma Rousseff como sua nova presidente, com um salário de R$ 290 mil mensais.

O NBD existe no papel, mas nunca fez um empréstimo sequer ou colocou verbas para qualquer país ou a qualquer título, em parte alguma. De repente, graças ao conhecido “dinamismo” de Dilma, pode começar a operar e mandar os recursos para Vilmar Mariano aplicar em Aparecida. Para ter fé nessa reviravolta, porém, é preciso acreditar também em saci-pererê, mula sem cabeça e boitatá.

O empréstimo esperado por Vilmarzim, assim, não passa de fumaça no ar. Na ausência de algo concreto, o tempo da sua administração segue inexoravelmente se esgotando. Não há uma marca, uma identidade ou uma realização, por menor que seja, para apresentar. A não ser que venham os dólares da Dilma.

Ninguém jamais foi tão bem na Fazenda quanto Cristiane

 

Economista com um currículo acadêmico de peso, Cristiane Schmidt deixou como legado o ajuste fiscal do Estado

 

A economista Cristiane Schmidt foi embora, depois de mais de quatro anos como titular da área fazendária do governo do Estado. E deixando um legado sem comparação com os seus antecessores, quaisquer que sejam os critérios e seja qual for a época: um equilíbrio financeiro inédito, com as despesas abaixo da receita, a dívida domada e um fantástico caixa de R$ 11 bilhões.

R$ 11 bilhões? Sim. É um espanto. Qual governador de Goiás contou com uma margem de recursos tão significativa como essa, em moeda corrente, para tocar a gestão? Nenhum. Nem mesmo procedendo-se a uma atualização de valores. Todos os governantes do passado trabalharam administrando a escassez dos seus cofres.

Não à toa, a ex-secretária é dona de um invejável currículo acadêmico. Tem até livros publicados. É séria e responsável até o último fio das suas mechas loiras. Tornou-se respeitada e admirada pela equipe de uma pasta na qual a maioria é de servidores efetivos, corporativistas, arrecadadores cegos e em muitos casos de visão retrógrada. Ela, não. Apesar de acusada de privilegiar o ajuste fiscal, Cristiane Schmidt esteve muito acima dessa definição simplória: na verdade, entendeu que finanças em boa situação são a chave para um governo realizador em matéria de políticas públicas.

Uma predecessora na Fazenda, Ana Carla Abrão Costa, quis deixar como legado uma esdrúxula Lei estadual de Responsabilidade Fiscal. Não conseguiu e isso não tem importância, pois seria apenas papel sem valor. A secretária de Caiado, sem esses arroubos, acabou fazendo mais para valorizar a responsabilidade fiscal – não só no Estado, mas em termos de país – pela força do exemplo. É por isso que nunca houve alguém de preparo e qualificação tão grandes como Cristiane Schmidt – e tão bem-sucedida – na direção financeira do Estado. E dificilmente haverá.

Ipasgo: não é privatização, mas até que deveria ser

O Ipasgo é um modelo de plano de saúde superado, que acaba pendurando nos cofres públicos parte da conta do atendimento médico ao funcionalismo. Não à toa, passa por crises periódicas. Nos governos anteriores ao de Ronaldo Caiado, protagonizou escândalos seguidos. É uma estrutura arcaica, sobrevivendo a fórceps em um mundo em transformação e modernização contínuas desde sua criação, no início da década de 60, pelo revolucionário – para a época – governo Mauro Borges.

Caiado, felizmente, resolveu acabar com a agonia do Ipasgo, com uma inovadora proposta de conversão da autarquia em uma espécie de fundação ou SSA – Serviço Social Autônomo, na verdade uma entidade de direito privado, mas sem objetivo de lucro e destinada a ser administrada e trabalhar em conjunto com o governo (tutelada, enfim) para garantir assistência médica ao imenso contingente de funcionários do Estado.

Podem anotar, leitoras e leitores: isso, por enquanto, parece um pouco confuso, mas é muito melhor em relação ao instituto atual. Na prática, o Ipasgo evoluirá para uma prestação de serviços semelhante à da Unimed e de empresas iguais, com racionalidade e um padrão elevado de qualidade e custo-benefício. Haverá uma cobertura maior para cada servidor e seus familiares. Pode ser que, um dia, essa configuração ora em implantação leve à extinção em definitivo do Ipasgo e à ocupação do seu espaço pelos planos de saúde em operação no mercado, mesmo porque, tornando-se uma SSA, a similitude entre um e outros será total. Se isso ocorrer, ótimo. Tomara que ocorra.

Cobertos pela Unimed, por exemplo, os servidores estaduais estariam hoje em situação mais favorável, talvez até pagando menos, e ainda por cima protegidos pela fiscalização da ANS – Agência Nacional de Saúde. Caiado, felizmente, soou o gongo: o velho Ipasgo será, finalmente, substituído por uma entidade novinha em folha, livre dos vícios e dos insanáveis defeitos da antiguidade. Não é ainda a privatização necessária. Mas um passo significativo nesse rumo. Já era hora.

O necrovocabulário das reportagens sobre o PSDB goiano

Desde a derrota do ex-governador Marconi Perillo para o Senado, em 2022, pela segunda vez, as matérias jornalísticas sobre o PSDB de Goiás costumam recorrer sistematicamente a uma espécie de necrovocabulário, ou seja, usam fartamente palavras e metáforas relacionadas a uma noção de morte ou cadáver.

Não há nada de errado nem muito menos algum tipo de perseguição semântica contra o partido outrora mais poderoso da política goiana. Trata-se apenas de um recurso de linguagem para tornar os textos mais atraentes e decorre de uma interpretação mais criativa da realidade. Coisa rotineira para quem escreve, porém… muito significativa.

Neste domingo, 16, um exemplo: o Jornal Opção publica uma avaliação curta sobre a adesão da prefeita de Matrinchã Ivânia Fernandes ao União Brasil, depois de duas décadas no PSDB. A mini reportagem lembra o completo esvaziamento da legenda tucana no Estado, hoje humilhantemente reduzida a apenas quatro diretórios municipais – e, para piorar, tudo isso se passando sob a presidência de Marconi.

Algumas necrolocuções a que a reportagem inteligentemente recorre, com precisão e em poucas linhas, ao mencionar o PSDB: tranca do caixão, extrema unção, UTI, enterrado e corpo insepulto. E assim é em todos os jornais e sites de informações e de análises em geral. Não há dúvidas: a alegoria apropriada para o PSDB goiano, hoje, é a sua condição de defunto político.

Política em Aparecida virou de pernas para o ar

Mendanha, depois da derrota, perdeu o controle da sua base e hoje corre o risco de ser levado a reboque na eleição de 2024

 

Nada mais é como antes na política de Aparecida. Antigos aliados estão rompidos, o ex-prefeito Gustavo Mendanha, maior liderança da cidade, está imprensado contra a parede, e todos aguardam a intervenção do governador Ronaldo Caiado e do vice Daniel Vilela – os dois observam o novo cenário sem se manifestar.

O prefeito Vilmar Mariano, sem obras e sem identidade, depois de um ano no cargo, está expurgando a turma de Mendanha que permanecia dominante no seu secretariado. Já tirou o ex-poderoso secretário da Fazenda André Rosa e está puxando o tapete de Fábio Passaglia, procurador-geral com influência na gestão desde a época do ex-prefeito. Mendanha, insatisfeito, não apareceu na posse do substituto de André Rosa (Einstein Paniago, homem de confiança de Jorcelino Braga).

O deputado federal Prof. Alcides colocou a sua candidatura a prefeito no ano vindouro. De qualquer maneira. Diz-se próximo dos 70 anos e que, na política, só resta realizar o sonho de comandar a gestão do município onde foi acolhido e fez fortuna (é nascido em Santa Helena). Sim, é parceiro de Vilmarzim, mas resolveu colocar os seus interesses pessoais à frente de tudo e já é acusado de traidor pelos articuladores da Cidade Administrativas, todos desde já se referindo a ele com adjetivos pesados.

Gustavo Mendanha, na planície, parece não saber exatamente onde colocar os pés. Flerta com Caiado e Daniel Vilela, porém ao mesmo tempo imagina liderar a oposição estadual em 2026, relançando-se candidato a governador. Em condições de normalidade, apoiaria a reeleição de Vilmarzim. Apoiaria. No momento, procura um candidato, que pode ser o ex-deputado federal e candidato derrotado ao Senado João Campos (o mais votado em 2022 em Aparecida).

Enquanto isso, diante da debilidade do atual prefeito e do veto legal a uma nova candidatura de Mendanha (seria a terceira, o que é expressamente proibido na legislação eleitoral), proliferam nomes para a disputa de 2024: o megaempresário Osvaldo Zilli, o ex-prefeito e ex-vice governador do Estado Ademir Menezes, o seu filho Max Menezes, o deputado federal Glaustin Fokus, o ex-deputado federal e candidato derrotado ao Senado Delegado Waldir, o presidente da Câmara André Fortaleza e por aí afora, em uma lista que soma mais de 20 nomes.

Todos, de cabo a rabo, esperando um fato decisivo: o posicionamento de Caiado e de Daniel Vilela. E, dentro desse viés, com quem ficará o MDB, o partido vencedor de todas as eleições no município desde a primeira vitória de Maguito Vilela, em 2008.