Coluna Momento Político - 05 de dezembro de 2018

CAIADO JÁ TEM MAIORIA DE 31 DEPUTADOS NA ASSEMBLEIA

Não custou muito esforço – nem pessoal nem político – para o governador eleito Ronaldo Caiado chegar a uma maioria de 31 deputados na Assembleia Legislativa. Esse número, poucas vezes visto na história de Goiás, foi alcançado quase que espontaneamente e pode ainda crescer para 33, sem falar nos parlamentares que eventualmente poderão votar a favor e manterão diálogo com o Palácio das Esmeraldas – como Talles Barreto ou Hélio do Sousa, que são do PSDB, mas jamais se atirariam a uma oposição radical em razão do perfil moderado e equilibrado que sempre exibiram. Uma base legislativa formada por 31 a 33 deputados dará a Caiado total autonomia para empreender reformas drásticas e principalmente os cortes radicais que hoje são demandados para ao menos remediar a superestrutura administrativa deixada por Marconi Perillo e Zé Eliton, na verdade um caos fiscal e burocrático em que a falta de recursos é complicada pela superposição de órgãos, em algumas situações, e a inutilidade e ineficácia de outros, na maioria dos casos.

FUTURO DE LÚCIA VÂNIA AINDA É INCERTO

A senadora em fim de mandato Lúcia Vânia não faz revelações sobre as decisões que deve tomar sobre o seu futuro, tanto pessoal quanto político. Aos 73 anos, ela pensa em se desligar da política, mas anda hesitando. Consta que teria recebido convite de Ronaldo Caiado para atuar no novo governo, como elemento de ligação de alto nível do Estado com os canais federais de Brasília, atraindo recursos e encaminhando soluções de interesse de Goiás. A amigos, tem repetido que não ficou magoada com a derrota nas urnas porque já esperava um resultado negativo, segundo ela, expectativa que cresceu e foi confirmada quando se viu alvo de traições dentro da base governista. É a explicação que tem para o mau resultado em 7 de outubro.

LISSAUER É MAIS UM NA BASE DE CAIADO NA ASSEMBLEIA

O deputado estadual Lissauer Vieira, do PSB, conseguiu se aproximar de Ronaldo Caiado e vai perfilar na base do novo governo na Assembleia. Mas é só. Como é desafeto do prefeito Paulo do Vale, Lissauer não tem chance nenhuma de emplacar uma vaga no secretariado – estaria de olho, segundo se comenta, na Secretaria da Agricultura, que será recriada por Caiado e terá status qualificado na gestão que se inicia a 1º de janeiro, muito embora se desconheça o que a pasta pode fazer pelo setor, que depende exclusivamente de recursos e incentivos federais e não estaduais. Qualquer ideia fora dessa realidade é pura ilusão.

ISO FOI REELEITO COM MARCONI E ZÉ TRABALHANDO CONTRA

Como um dos primeiros deputados estaduais a apoiar Ronaldo Caiado, o veterano Iso Moreira poderia pleitear a presidência da Assembleia, mas preferiu apoiar o colega Álvaro Guimarães – assim livre de qualquer concorrência. Iso fez bonito ao ser reeleito, mesmo a duras penas, sob intensa perseguição nas suas bases comandada pessoalmente pelo governador Zé Eliton, que é da mesma região, o Nordeste goiano – Zé chegou a bancar pessoalmente um candidato para dividir seus colégios eleitorais . O ex-governador Marconi Perillo também se esforçou para derrotar o parlamentar, que superou todos os obstáculos, buscou votos fora da sua zona de origem e melhorou a sua aceitação ao colar a sua imagem em Caiado, chegando a vitória.

EMPRESAS NÃO CUMPRIRAM CONTRAPARTIDA PELOS INCENTIVOS

A Adial, que representa as 600 empresas privilegiadas com incentivos fiscais em Goiás, tentou embrulhar o governador eleito Ronaldo Caiado com uma proposta esperta: aumentar os investimentos industriais no Estado em troca da manutenção da atual política tributária sem nenhuma alteração. Caiado nem resposta deu. Um dos problemas dos incentivos fiscais é que eles foram concedidos mediante contrapartida das empresas que nunca foram apuradas se foram cumpridas ou não. Em 2011, a economista Ana Carla Abrão Costa investigou os contratos e descobriu que absolutamente nenhum foi seguido ao pé da letra. Ela chegou a cancelar alguns benefícios, mas foi obrigada a voltar atrás depois que o então governador Marconi Perillo não resistiu à pressão de associações como a Adial.

UM DILEMA PARA O DEPUTADO MAJOR ARAÚJO

Reeleito graças a sua firme oposição ao governador Marconi Perillo, com palavras duras e exageradas muitas vezes, o deputado Major Araújo viverá a partir de 2019 um dilema: como apoia o governador Ronaldo Caiado, fará a oposição, que é só o que sabe fazer, a quem na Legislatura que se inicia no ano que vem? Ao governo Marconi, que não existirá mais? Ou, quem sabe, cumprindo a sua sina de boca do inferno, ao próprio Caiado que apoiou, para garantir a fidelidade das suas bases quando se virem contrariadas pelos cortes e restrições que estão a caminho? O dilema de todo político de atuação radical é exatamente esse: se sair dos extremos, perde o discurso, mas, permanecendo neles, perde a coerência.

EM RESUMO

• A oposição na Assembleia Legislativa será representada na Mesa Diretora presidida por Álvaro Guimarães pela deputada Adriana Accorsi, do PT, que ganhará uma secretaria – sem qualquer importância ou função, é claro.

• Muitos dos políticos e parlamentares convidados para almoçar com o governador findante Zé Eliton no Palácio das Esmeraldas, a pretexto de confraternização de final de ano, estão simplesmente dando o bolo.

• Para alcançar uma base de 31 deputados na Assembleia Legislativa, o governador eleito Ronaldo Caiado não precisou de nenhum esforço. O número foi alcançado, digamos assim, natural e espontaneamente.

• A campanha de Zé Eliton foi tocada por uma inédita “comissão de marqueteiros” em que uns conspiravam contra os outros. Que ia perder, era notório, mas o humilhante  3º lugar foi consequência dessa aventura.

• Da aspiração de liderar a oposição ao governo Ronaldo Caiado, o governador findante Zé Eliton desceu à pretensão, segundo anunciou, de ser apenas “uma voz atenta e atuante” a fazer “ponderações necessárias”.

• Há informações sobre novos e delicados desdobramentos da Operação Cash Delivery, aquela que prendeu Marconi Perillo e Jayme Rincón. Fala-se agora no envolvimento de mais familiares, além do filho de Rincón.

• Zé Eliton ainda não começou a pagar o mês de novembro ao funcionalismo. E quem ganha acima de R$ 3,5 mil mensais está fora do calendário anunciado, que prevê escalonamento até o dia 22 próximo.

• Usando uma expressão popular: pensa em alguém desorientado e sem rumo pessoal ou político? Pensou? É o deputado federal findante Jovair Arantes. A derrota o surpreendeu e, mais, o apavorou também.

• Há ressentimento no Palácio das Esmeraldas com o comportamento do presidente da Assembleia Zé Vitti, que resolveu rasgar a fantasia e assumir postura de apoio apaixonado ao governador eleito Ronaldo Caiado.

Foto: G. Magela-Ag. Senado