ELEIÇÃO PARA PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA DEIXOU SEQUELAS
A eleição de Lissauer Vieira para a presidência da Assembleia Legislativa deixou sequelas que vão exigir do governador Ronaldo Caiado um esforço que ele, talvez, ou não está disposto ou não acredita que deve fazer. Desde que foi eleito até hoje, quando já completou mais de mês de mandato, Caiado nunca chamou deputados para conversar nem desenvolveu algum tipo de relacionamento mais significativo com qualquer um deles. E acredita que não deve ceder espaços no governo em troca de apoio parlamentar. Essa posição do novo governador vai dificultar a normalização das relações com a Assembleia, coisa que seria fácil de alcançar caso ele credenciasse interlocutores como o secretário de Governo Ernesto Roller ou mesmo o vice-governador Lincoln Tejota (ambos são ex-deputados experientes). Roller e Tejota até atuaram nas articulações para a escolha do novo presidente, mas com as mãos vazias, sem nada a oferecer aos deputados. Não podia dar e não deu certo.
A BANCADA FEDERAL E O COORDENADOR QUE NÃO COORDENA
A reunião dos senadores e deputados federais goianos, em Brasília, que escolheu Flávia Morais como coordenadora, contou com a presença de Jovair Arantes – o único dos derrotados na eleição passada que compareceu. Ninguém entendeu o motivo. É tradição que os parlamentares de cada Estado tenham um “líder” para falar por eles em Brasília, mas de pouca função ou utilidade além da coordenação de um acordo para o preenchimento dos cargos do governo federal em Goiás, hoje, em sua maioria, entregue a funcionários de carreira, mas mesmo assim abençoados por um senador ou deputado federal do Estado.
DISPUTA ENTRE WILDER MORAIS E ADRIANO DA ROCHA LIMA
Está cada vez mais crítica a disputa de poder entre Wilder Morais, secretário de Indústria e Comércio, e Adriano da Rocha Lima, secretário de Desenvolvimento e Inovação. Wilder não abre mão – e tem lógica – de levar para a sua recém-criada pasta os organismos, como o programa de incentivos fiscais Produzir, que atuam próximos ao empresariado, mas Rocha Lima resiste e, no primeiro embate, ganhou a parada com a decisão do governador de que o Produzir fica na SEDI – sob o argumento de que teria a ver com políticas de desenvolvimento estratégico do Estado. Em uma cerimônia, há poucos dias, presidida por Caiado, em que foram anunciados novos empreendimentos industriais para Goiás, Wilder não deu as caras. Quem comandou a reunião, com um longo discurso, inclusive, foi Rocha Lima.
CAIADO CUMPRE A PROMESSA, MAS BENEFICIADOS RECLAMAM
Eis aí um bom exemplo sobre como são infinitas e perpétuas as demandas do funcionalismo estadual: na campanha, Ronaldo Caiado prometeu acabar com a 3ª classe dos soldados da Polícia Militar e unificar todos em uma só categoria, assumiu o governo e “cumpriu”, mas o que conseguiu foi aumentar ainda mais a insatisfação dos 2.661 profissionais supostamente beneficiados. É que Caiado usou a palavra “equiparação”, que presume que todos seriam incluídos em uma classe só, nesse caso a 1ª, mas não foi o que aconteceu, pois a medida do governador apenas promoveu quem estava na 3ª para a 2ª classe, o que, para a soldadesca, não era o almejado. Os perfis do governador nas redes sociais foram inundados de reclamações. Os salários mais do que dobraram, mas eles querem mais, ou seja, todo mundo na 1ª classe.
LEGISLATIVO NÃO SUBMISSO AO EXECUTIVO É AVANÇO PARA GOIÁS
Talvez sem muita consciência de que acabaria alcançando esse objetivo, o movimento da maioria dos deputados estaduais que elegeu Lissauer Vieira como o novo presidente da Assembleia, não submisso ao Executivo, vai dar uma contribuição histórica para o progresso político de Goiás ao vestir no Legislativo o figurino da independência que servirá de contrapeso e de freio que no final das contas será positivo para o mandato do governador Ronaldo Caiado – e principalmente por se tratar de Caiado. Do ponto de vista dos interesses da sociedade, que é a beneficiária de uma gestão que se mostre equilibrada e responsável nos seus atos, pode se tratar de um avanço: a Assembleia, enfim, poderá realmente moderar a ação do Executivo, que a partir de agora terá que se mostrar cauteloso e prudente em dobro ou em triplo quanto aos projetos e aos temas que submeterá à apreciação da Casa. Bom, mas muito bom para Goiás. Caiado, se ganhou sozinho a eleição para governador, sozinho não governará porque são momentos diferentes e desiguais.
GOVERNO CONTINUARÁ FECHADO A INDICAÇÕES POLÍTICAS
O colunista Divino Olávio, daqui do Diário Central, aposta que vai quebrar a cara quem esperar qualquer evolução na articulação do novo governo por conta de algum recuo nas posições de Ronaldo Caiado. “Ele não muda, está convencido do acerto das suas decisões”, diz o colega jornalista. Isso pode significar que o governo continuará fechado a indicações dos deputados, atitude que teve papel fundamental na construção do movimento independente na Assembleia e a consequente eleição de Lissauer Vieira às margens da influência do Palácio das Esmeraldas. Divino Olávio lembra a biografia limpa de Caiado, que passou incólume por sucessivos escândalos de corrupção em Goiás e no país e que ele pretende preservar, custe o que custar, mesmo com abalos na base de apoio do governo – e assim concessões não serão feitas de jeito nenhum. Goiás é que terá de se adaptar ao governador, não ele a Goiás.
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