DINHEIRO É O QUE INTERESSA: DIRETÓRIOS ESTADUAIS GARANTEM ACESSO IRRESTRITO AO FUNDO PARTIDÁRIO
Para qualquer político, em qualquer Estado no país, presidir um diretório estadual de partido passou a ser um privilégio e tanto. Não só pela visibilidade, cujo grau depende da importância da sigla, nem apenas pelo poder e influência que o cargo oferece, mas principalmente em razão do acesso privilegiado que os diretórios estaduais garantem às verbas do milionário Fundo Partidário. É muito dinheiro, que serve para cobrir despesas mensais como aluguel, telefone, secretária, assessoria jurídica e de comunicação, veículos, combustível, diárias e tudo o mais que pode ser lançado como gastos de interesse do partido. O melhor: em épocas de campanha eleitoral, o Fundo Partidário aporta verbas que o presidente do diretório entrega aos candidatos que mais o interessam ou ao partido. É por isso que Vilmar Rocha não quer largar a direção do PSD em Goiás, depois de rebaixado pela filiação à distância do banqueiro Henrique Meirelles, que nem se dignou a vir a Goiás para disfarçar a sua imposição ao projeto político do partido. Pelos mesmos motivos, o ex-governador Marconi Perillo está escalando o seu hoje fiel escudeiro José Eliton para presidir o PSDB goiano e o ex-deputado federal e desempregado Daniel Vilela não desiste de administrar o MDB estadual. Nenhum deles jamais admitirá, mas é o dinheiro que explica tudo isso.
REELEIÇÃO EM 2022: LIDERANÇA PESSOAL DE CAIADO ESTÁ MUITO ACIMA DA POLÍTICA
O governador Ronaldo Caiado dispõe de pesquisas que aumentaram, e muito, a sua autoconfiança quanto as suas possibilidades de reeleição em 2022. Hoje, ele estaria reconduzido a um novo mandato com votação superior a que teve na eleição passada. Lembrando: essa situação confortável não depende do apoio de partidos, mas, sim, é consequência da sua própria liderança pessoal. Caiado ascendeu acima da política e fala hoje diretamente com a população. Ele dispensa mediações.
R$ 2,5 BILHÕES EM RECURSOS PÚBLICOS, POR ANO, PARA A FARRA DOS PARTIDOS
O Fundo Partidário tem R$ 2,5 bilhões a cada ano, repartidos conforme as bancadas de cada legenda na Câmara, no Senado e ainda com 2% reservado a todos os partidos inscritos na Justiça Eleitoral, o que beneficia os nanicos que não têm deputados ou senadores. A roda gira com os diretórios nacionais recebendo uma bolada, engolindo uma parte geralmente substanciosa, e remetendo o que sobra para as suas seções estaduais – e essa sobra ainda é uma pequena fortuna. Essas, por sua vez, também separam a fatia mais gorda para uso próprio, só encaminhando aos departamentos municipais o que discricionariamente acham que devem, ou seja, quase sempre nada. Há variações, reconheça-se, a depender do estofo ético e dos princípios de cada presidente. Sendo ano de eleição ou não, é com esses cobres que os partidos, ou melhor, os seus dirigentes estaduais se sustentam. Diretórios como o do PT, do PSL, do MDB, do PP, do PSD ou do PSDB, que são agremiações maiores, fartam-se com um mínimo de R$ 50 a 100 mil por mês, em alguns casos mais até. Não é um numerário desprezível, dada a regularidade do recebimento a cada 30 dias. E com a vantagem da liberdade para gastar conforme o livre arbítrio do presidente estadual. Daí que o comando direto do diretório é um trunfo para qualquer político e não pode gratuitamente cair no colo de qualquer zé mané, mesmo um de nível superior.
PRESTAÇÃO DE CONTAS AO TRE ACEITA ATÉ HELICÓPTEROS E CARROS DE LUXO
O Fundo Partidário criou distorções imensas na política brasileira. Sim, alguém dirá, os partidos são obrigados a prestar contas detalhadas sobre os seus dispêndios, contabilidade que é fiscalizada pela Justiça Eleitoral. Mas as brechas são colossais. A auditagem dos balancetes é superficial, além de não existe um regramento objetivo e cristalino sobre o que são desembolsos propriamente “partidários”. Um político processado pode, por exemplo, ter o seu advogado pago com esses haveres. Qualquer tipo de viagem também pode ser coberta. E até salários elevados, a quem quer que seja, são permitidos, mesmo imorais. O que vale é a capa de legalidade. Entendem agora, leitoras e leitores? Esses são os motivos pelos quais a presidência de um diretório estadual de partido, em Goiás, passou a ser uma valiosa prebenda pessoal e não mais uma missão, como chegou a ser no passado. E explica a condução próxima de José Eliton à liderança do PSDB e a manutenção de tantos outros que já usufruem dessas vantagens, inclusive partidecos espalhados por aí a torto e a direito. Na essência, é uma questão de dinheiro. E quando é o caso, quem sai à frente e atropela é que se dá bem.
ROBERTO NAVES LEVA ANÁPOLIS NA BANDEJA PARA A REELEIÇÃO DO MAJOR VITOR HUGO
De deputado federal eleito acidentalmente pela onda que empurrou Jair Bolsonaro e o PSL em 2018, Major Vitor Hugo prepara-se para o próximo pleito ostentando vantagens incomparáveis, como por exemplo o apoio de colégios eleitorais de expressão em Goiás. Ele terá, por exemplo, o prefeito de Anápolis Roberto Naves como um dos seus principais cabos eleitorais e, mais importante, já em campo para introduzir o parlamentar-militar como liderança vinculada política e socialmente à cidade. Naves, na verdade, mostra espírito de gratidão e retribui os esforços de Vitor Hugo na sua campanha para a reeleição no ano passado, que foram decisivos para o crescimento da sua candidatura e a surpreendente vitória sobre o petista Antônio Gomide, antes dado como praticamente eleito – em especial pelo vídeo em que Bolsonaro rasgou elogios e pediu voto ao prefeito anapolino.
MORTE DE MAGUITO DEIXOU DANIEL E O MDB COM VISIBILIDADE CADA VEZ MENOR
Está cada vez mais claro que a morte de Maguito Vilela foi mais prejudicial para o MDB do que a suposta aposentadoria de Iris Rezende. Este, na verdade, agia por conta própria há anos e anos e não se vinculava a nenhum projeto partidário, a não ser os que se conectavam com os seus próprios interesses pessoais. Já Maguito, de alguma forma, não, mesmo porque era pai do presidente estadual Daniel Vilela, esperança dos emedebistas para um dia retornar ao poder estadual – do qual encontram-se desalojados há mais de 20 anos. Isso perdeu força. Tanto Daniel quanto o MDB perderam muito em visibilidade, ainda mais diante da ascensão do prefeito Rogério Cruz, que tem prestigiado o partido, mas é do Republicanos e atua sob suspeita de que a qualquer momento pode tomar outro rumo e aplicar um xeque mate na aliança que hoje comanda o Paço Municipal. Dentro desse novo quadro que está emergindo, aumentam as chances de composição com o governador Ronaldo Caiado para 2022.
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